Durante décadas, questionámo-nos sobre o motivo pelo qual os neandertais se extinguiram. Por isso, estudamos os seus narizes.

Tínhamos dúvidas sobre como eles suportavam o frio, e a resposta é que eles não evoluíram. Durante décadas, os paleoantropólogos depararam-se com um paradoxo biológico. Os neandertais, uma espécie supostamente adaptada ao frio glacial da Europa, tinham narizes enormes e largos. Essa característica, em teoria, é totalmente ineficaz para aquecer o ar frio antes que ele chegue aos pulmões. Mas, devido à escassez de fósseis, os especialistas ainda não conseguiam explicar o que exatamente aconteceu com essa espécie.

Reconstrução. Para entender o que aconteceu aqui, os especialistas conseguiram reconstruir em formato digital a parte interna do nariz do «homem de Altamura», o neandertal mais bem preservado do mundo, sem sequer tocar nele. E o que eles descobriram refuta grande parte do que pensávamos sobre o rosto dos nossos ancestrais evolutivos. O objetivo final desta investigação era muito claro: encontrar mais uma razão pela qual eles desapareceram do nosso planeta. E tudo porque, até ao momento, o desaparecimento desta espécie continua sendo um mistério, embora as últimas investigações mostrem que eles estão mais integrados a nós do que pensamos.

Prisioneiro da calcita. Para compreender a magnitude desta descoberta, primeiro é preciso compreender o próprio objeto. O «Homem de Altamura» foi descoberto em 1993 por um grupo de espeleólogos no sistema cárstico de Lamalunga, no sul da Itália. E não se trata de um fóssil comum. O esqueleto está completamente preservado, mas caiu numa caverna natural e ficou preso numa câmara, onde, ao longo de milénios, a água e o calcário fizeram o seu trabalho. Hoje, o neandertal está literalmente incrustado nas paredes da caverna, coberto por formações calcárias do tipo «pipoca», que o protegeram, mas também tornam impossível a sua remoção sem destruí-lo. Essa «prisão» mineral teve uma vantagem inesperada: preservou estruturas ósseas tão finas e frágeis que normalmente desaparecem em restos fósseis, como as conchas nasais e as lamelas do osso etmoidal. Este é o primeiro caso na história em que temos a cavidade nasal completa de um neandertal.

Dissecção virtual. Como não era possível retirar o crânio para colocá-lo no scanner do laboratório, eles tiveram que levar o laboratório para dentro da caverna. O que, à primeira vista, parece uma tarefa totalmente impossível. A solução foi a tecnologia endoscópica, pois, com sondas médicas de alta resolução (como as que são inseridas nos brônquios para seu exame), eles passaram pelas cavidades oculares e nasais do fóssil. A magia aconteceu com a combinação dessas imagens com métodos de fotogrametria, pois foi criada uma modelo 3D precisa do interior do crânio.

Aquecimento central. Depois de obter uma fotografia suficientemente boa do interior do nariz deste neandertal, chegou a hora da interpretação. Durante muitos anos, existiu a hipótese de que, para compensar o nariz largo em ambientes frios, os neandertais deveriam ter estruturas internas únicas. Tratava-se de protuberâncias verticais e espessamentos mediais que funcionariam como radiadores para aquecer e humidificar o ar. Dois pontos fundamentais necessários para uma respiração correta. Mas os resultados da análise mostraram outra coisa. Em primeiro lugar, a estrutura interna do nariz é surpreendentemente semelhante à estrutura do nariz do homem moderno, só que em um «quadro» maior do rosto. Isso significa que as supostas adaptações únicas não estavam presentes neste fóssil, e as vias respiratórias não tinham uma arquitetura «alienígena», como seria de se esperar.

Nova extinção. Assim, os neandertais aparentemente não conseguiram se adaptar a um ambiente tão frio para respirar normalmente. Nós, seres humanos, temos muitos mecanismos para aquecer o ar antes que ele entre nos nossos pulmões, a fim de garantir a troca gasosa. Mas isso não existia nos nossos antepassados. Assim, se o ar frio entrar nos pulmões, podem surgir problemas respiratórios que, em altas temperaturas, podem realmente levar à extinção da espécie, se nos colocarmos no contexto de condições extremamente frias.

Porquê o rosto deles. Se o nariz gigante não era uma «máquina de aquecimento do ar» ultraespecializada, para que precisavam dele? O estudo sugere que devemos parar de olhar apenas para o clima. O rosto característico desta espécie parece ser o resultado de dois fatores específicos:

  1. Genética dos antepassados.
  2. Necessidade energética muito elevada, que exigia uma grande quantidade de oxigénio e, consequentemente, um enorme fluxo de ar.

O homem de Altamura viveu no período MIS 6 (há cerca de 130 000-170 000 anos), numa época fria, mas no sul de Itália o clima era mais moderado. O seu nariz, «normal» por dentro, mas enorme por fora, sugere que a evolução facial desta espécie não foi uma linha reta, determinada apenas pelo termómetro.

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