Calcular a altura dos edifícios da antiguidade é um desafio difícil de resolver para os arqueólogos. A má conservação de algumas estruturas, especialmente aquelas que, como as mesopotâmicas, foram construídas com adobe, dificulta enormemente a tarefa. No entanto, embora uma investigação deste tipo seja difícil, estimar a altura das muralhas da famosa Babilónia não é impossível. Num artigo recente, o arqueólogo John MacGinnis propôs uma reavaliação sistemática dos dados arqueológicos, iconográficos, textuais e clássicos para reconstruir a verdadeira escala destes gigantes arquitetónicos da antiga Mesopotâmia.
Evidências antigas: de Naram-Sin aos reinos amorreus
As primeiras referências à altura das muralhas mesopotâmicas aparecem em inscrições do Império Acádio. Assim, nos textos produzidos sob o governo de Naram-Sin, são fornecidas as medidas das defesas da cidade de Armanum. São mencionados 44, 30 e 20 côvados para diferentes segmentos do recinto, o que equivale a cerca de 22, 15 e 10 metros, respetivamente. MacGinnis sustenta que não existe qualquer impedimento arqueológico ou arquitetónico para aceitar como plausíveis estas alturas.
Cerca de mil anos depois, a estela do rei Dadusha de Eshnunna, datada do início do século XVIII a.C., inclui uma representação detalhada das fortificações de Qabrâ. Graças à análise cuidadosa das proporções do relevo e à comparação com as torres escavadas em Tell Harmal e, sobretudo, com os bastiões de Kurd Qaburstan, MacGinnis propõe alturas aproximadas de 7,8 m para a muralha principal, 9,4 m para a torre central e 2,6 m para a muralha avançada. Embora estes números sejam menores em comparação com os fornecidos pelos textos da época de Naram-Sin, a consistência estrutural dos dados parece confirmar que os artistas procuraram representar as proporções de forma realista. Segundo o autor do estudo, portanto, as fortificações mesopotâmicas do segundo milénio podiam atingir alturas consideráveis.

Os colossos da arquitetura assíria: muralhas que chegam a 25 metros
A investigação torna-se ainda mais precisa para o primeiro milénio a.C., especialmente no que diz respeito ao período neoassírio. Sargão II (r. 722-705 a.C.) afirma que as muralhas de Dur-Sharrukin atingiram uma altura de 180 fileiras de tijolos. Dado que cada tijolo tinha cerca de 10 cm de espessura, a altura total seria de cerca de 18 metros. No caso de Senaqueribe (r. 705–681 a.C.), os números são ainda mais impressionantes. São mencionadas 200 fileiras de tijolos com 12 a 16 cm cada, o que conferiria às muralhas de Nínive dimensões colossais: entre 24 e 32 metros de altura.
Embora os vestígios conservados no sítio arqueológico não corroborem essas dimensões, várias das secções escavadas mostram elevações de até 15 metros, o que confirma a solidez geral dos cálculos. A partir dos relevos das estruturas palacianas, MacGinnis obteve proporções muito precisas entre a largura das portas e a altura das muralhas. Quando estas proporções são comparadas com as dimensões reais das portas escavadas, como a dedicada ao deus Nergal, com 20,7 m de largura total, obtém-se uma altura estimada da muralha principal de Nínive que rondaria os 20,5 metros, com torres que poderiam atingir os 23 metros.
Babilónia: o grande debate sobre as alturas monumentais
A parte mais interessante do estudo de MacGinnis centra-se na Babilónia, cujo sistema de muralhas é descrito em pormenor tanto nas fontes mesopotâmicas como nos textos clássicos. Os soberanos Nabopolassar, Nabucodonosor II e Nabonido empreenderam amplas obras de renovação que serviram para reforçar o duplo sistema defensivo composto pelas muralhas denominadas Imgur-Enlil e Nemetti-Enlil, além de um enorme aterro de tijolos cozidos que funcionava como muralha externa.
As análises indicam que a muralha Imgur-Enlil devia medir pelo menos 15 metros na sua secção principal, aos quais se somavam cerca de 2 metros de ameias e uma série de torres que se elevavam entre 3 e 6 metros acima. A soma destes números gera uma altura total provável entre 20 e 23 metros. A muralha avançada, por sua vez, teria atingido entre 10 e 13 metros.
Autores clássicos como Ctesias, Diodoro e Estrabão atribuíram às muralhas da Babilónia cerca de 25 metros de altura e larguras que teriam permitido a circulação de várias carruagens ao mesmo tempo. Embora Heródoto exagere até ao absurdo estas dimensões, propondo 200 côvados (100 metros) de altura, a variação de 20 a 25 metros coincide de forma surpreendente com os cálculos arqueológicos modernos.

Limites técnicos e possibilidades reais do adobe mesopotâmico
Uma das questões essenciais abordadas pelo estudo reflete sobre até que ponto era tecnicamente possível construir muros de adobe com mais de 20 metros. As conclusões de MacGinnis, baseadas em estudos de resistência, proporções e comportamento sísmico, indicam que as muralhas mesopotâmicas poderiam ter sido erguidas, sem risco de desabamento, até cerca de 20-23 metros. Em contextos monumentais, estes números poderiam aumentar até atingir os 25 metros. Isto explica-se por fatores como a compressão que endurece o adobe nas bases, o uso de contrafortes, a possibilidade de aumentar a espessura para sustentar alturas maiores e a presença, em certos casos, de revestimentos de pedra, como na Babilónia e em Nínive.
As muralhas que redefinem a escala do urbanismo antigo
O trabalho de MacGinnis fornece argumentos convincentes para sustentar que as muralhas de grandes cidades como Babilónia podiam atingir alturas entre 17 e 23 metros. O estudo demonstra que as alturas propostas pelas fontes antigas são coerentes com os dados arqueológicos e com o comportamento físico do adobe. As muralhas da Babilónia, Nínive e outras grandes capitais, portanto, podiam frequentemente ultrapassar os 20 metros, tornando-se verdadeiros marcos arquitetónicos do antigo Oriente Próximo.

