A tradição de oferecer leite aos gatos persiste há gerações, mas os especialistas alertam que esse hábito carece de fundamentos nutricionais. Como isso pode afetá-los e que tipo de dieta eles recomendam Conhecer as necessidades nutricionais dos gatos domésticos em cada fase da sua vida é fundamental para tutores e especialistas, especialmente diante de crenças tradicionais que podem afetar a saúde felina. Um dos mitos mais persistentes é o consumo de leite e produtos lácteos por gatos adultos, um costume que carece de respaldo científico e pode até mesmo entrar em conflito com o bem-estar do animal. Os especialistas alertam sobre os inconvenientes e os cuidados necessários em relação a este alimento tradicionalmente associado aos felinos.
Os gatos precisam de beber leite para se manterem saudáveis?
A crença de que os gatos devem consumir leite vem de representações do século XIX A imagem do gato a beber leite tem a sua origem no século XIX, alimentada pela arte e pela cultura popular, mas não reflete as necessidades biológicas dos felinos. De acordo com Nathalie Dowgray, diretora da Sociedade Internacional de Medicina Felina do Reino Unido, a maioria dos gatos perde a capacidade de digerir lactose após o desmame. O principal açúcar do leite torna-se indigestível para o sistema digestivo adulto, o que explica que «o leite pode causar problemas digestivos nos gatos e provocar sintomas como diarreia ou vómitos», confirmou Dowgray para a Live Science. Organizações como a Dispensário Popular para Animais Doentes e a Cats Protection destacam que o leite de vaca é ainda mais problemático devido ao seu alto teor de gordura e fosfato, o que pode gerar consequências negativas, especialmente se o animal apresentar doença renal crónica.

Como o consumo de leite pode afetar os gatos?
Veterinários alertam que o leite de vaca pode causar diarreia e vómitos em gatos O problema central é a intolerância à lactose. De acordo com a Cats Protection, tanto os gatos como alguns humanos deixam de produzir lactase, a enzima responsável pela digestão da lactose, após o desmame. Quando um gato adulto ingere leite ou derivados lácteos, a lactose não digerida chega ao intestino grosso, onde fermenta e causa vários problemas digestivos.Pode interessar-lhe:Um novo sistema de avaliação poderá transformar raças como o pug e o bulldog para evitar problemas de saúde
Os sintomas mais comuns incluem diarreia, acumulação excessiva de gases, inchaço abdominal e flatulência. Em alguns casos, esses distúrbios digestivos podem causar desidratação, letargia e comportamentos incomuns de limpeza da região anal. Além disso, os especialistas enfatizam que não existem tratamentos específicos para reverter esses quadros: evitar laticínios e consultar rapidamente um veterinário é a única recomendação clara.
Existe um leite especial para gatos?
O leite de vaca contém altos níveis de gorduras e fosfato prejudiciais à saúde felina Existem no mercado produtos lácteos deslactosados ou fórmulas elaboradas para gatos, mas os especialistas concordam: essas alternativas costumam ter alto teor calórico e carecem de nutrientes indispensáveis para os felinos. Dowgray aconselha priorizar “o acesso a água fresca em vez de qualquer derivado lácteo, já que a água é o único líquido indispensável para a vida felina adulta”. Em casos de gatinhos órfãos ou não desmamados, a opção segura é recorrer a fórmulas específicas concebidas para cobrir todas as necessidades nutricionais durante o crescimento. Nenhum laticínio comercial ou de origem animal pode substituir o leite materno ou as fórmulas veterinárias para gatinhos.
Que tipo de dieta húmida os gatos podem comer
A combinação de comida húmida e ração seca contribui para uma dieta completa e equilibrada A combinação de comida húmida e ração seca (entenda-se por ração um tipo de alimento seco e prensado) é uma estratégia alimentar frequente e apoiada por veterinários e organizações felinas. Entre as vantagens da comida húmida estão:
- Facilita a hidratação, especialmente em gatos com baixo consumo de água.
- Apresenta um conteúdo calórico reduzido, o que contribui para o controlo do peso corporal.
- O seu aroma e sabor intensos são atraentes, especialmente em animais mais velhos ou com dificuldades dentárias.
Recomenda-se que o equilíbrio entre proteínas, gorduras e hidratos de carbono seja alcançado servindo ambas as variantes, húmida e seca, em tigelas diferentes, uma vez que a ração seca contribui para a saúde dentária, embora requeira controlo na ração para evitar o excesso de peso.

É suficiente dar ao meu gato uma alimentação equilibrada?
A ração seca ajuda a manter a saúde dentária, mas pode aumentar o risco de obesidade se a ração não for controlada A maioria dos veterinários concorda que uma ração balanceada, formulada de acordo com a espécie e a fase da vida, é suficiente para satisfazer as necessidades nutricionais do gato doméstico. «Não há benefício adicional em adicionar leite ou produtos especiais quando se fornece uma dieta adequada, variada e balanceada», enfatizou Dowgray. As recomendações dos fabricantes de ração seca geralmente estabelecem quantidades diárias orientativas com base no peso, idade e condição corporal do gato, pelo que a combinação entre ração seca e húmida deve ser calculada para evitar excessos.
Como deve mudar a alimentação dos gatos de acordo com a sua idade?
A quantidade e o tipo de ração para gatos devem ser ajustados à sua idade e condição física As necessidades nutricionais dos gatos evoluem juntamente com o seu desenvolvimento:
- Desde o nascimento até cerca de quatro semanas, o leite materno ou uma fórmula específica representam o único alimento recomendado.
- Por volta dos dois meses, introduz-se ração macia e húmida, formulada para gatinhos, distribuída em várias pequenas refeições.
- Na juventude, a partir dos seis meses, a variedade é ampliada sob supervisão, controlando a ingestão de gorduras para evitar doenças.
- Durante a idade adulta, a alimentação é adaptada de acordo com o estado de saúde, atividade e necessidades particulares.
- Os gatos idosos (com mais de sete anos) requerem fórmulas fáceis de digerir, com baixo teor de gorduras e proteínas, concebidas para proteger a função renal e facilitar a mastigação.
Alimentos como ovos crus, cereais, plantas tóxicas, doces, uvas, citrinos e álcool devem ser totalmente eliminados da dieta felina. Consultas regulares com o veterinário garantem um plano alimentar adequado a cada fase da vida, proporcionando bem-estar e saúde ao longo do ciclo de vida do gato. Água fresca, uma dieta completa e orientação profissional são os pilares da saúde nutricional dos gatos domésticos.

